Quadrilha se apropriou de motel após expulsar dono, que teve prejuízo de R$ 500 mil
O esquema em que um grupo criminoso induzia garotas de programa e travestis para extorquir clientes é alvo da Polícia Civil, nesta terça-feira, 23, em Canoas, na região Metropolitana de Porto Alegre. De acordo com a instituição, a quadrilha chegou a expulsar o dono de um motel e se apropriou do estabelecimento. São executadas 44 ordens cautelares, entre mandados de prisão temporária, buscas, sequestro de bens e bloqueio de contas bancárias. Até o momento, quatro pessoas foram presas e uma adolescente foi apreendida. Houve ainda a apreensão de uma arma de fogo e de um veículo.
A investigação começou em novembro do ano passado, quando quatro criminosos armados tomaram conta de um motel na Rua Liberdade, do bairro Marechal Rondon. O dono, que administrava o espaço há mais de 30 anos, foi obrigado a deixar o local. Ele teve prejuízo superior a R$ 500 mil. No lugar do proprietário, um traficante conhecido como “Balaca”, que está detido no sistema penitenciário em Santa Catarina, indicou a companheira para gerir o estabelecimento.
O preso é vinculado a outro criminoso, investigado por comandar a quadrilha. O líder do grupo soma 89 anos em condenações. Ele comandava o esquema dentro da prisão, até o final do ano passado, quando o poder judiciário autorizou o benefício humanitário para uma cirurgia fora do sistema prisional. Desde então, o paradeiro dele é desconhecido. As investigações prosseguem para localizar o fugitivo e apurar outros crimes correlatos.
Aliciamento e pagamento de taxa
A titular da 3ª DP de Canoas, delegada Luciane Bertoletti, explica que o grupo se apropriou do motel após controlar pontos de tráfico e de exploração sexual na localidade. O primeiro passo foi aliciar garotas de programa e travestis, que começaram a pagar taxas de no mínimo R$ 50 por noite aos traficantes. “Houve um caso em que travestis se recusaram a ceder a quantia diária e foram alvo de tiros. A vítima foi baleada, mas acabou sobrevivendo”, salientou Luciane, que comandou a investigação.
Ocorre que, ainda segundo a delegada, as pessoas que atuavam na prostituição também passaram a extorquir clientes, ao comando dos traficantes. Em outras palavras, quem procurava serviços sexuais era gravado com celular e se tornava alvo de chantagens. Um homem teria sido forçado a pagar R$ 20 mil para que a gangue não divulgasse imagens dele no motel. “Gravavam programas e depois entravam em contato com os clientes. Era então que tinha início a exigência de valores, sob ameaça de expor as vítimas para familiares e colegas de trabalho”, pontuou.
O delegado regional Cristiano Reschke destaca que proprietários de outros estabelecimentos também foram alvo de intimidação dos traficantes. A suspeita é de que a facção pretendia garantir o controle da área. “Existem outras vítimas que foram ameaçadas, inclusive com a depredação dos seus estabelecimentos comerciais. A finalidade do grupo era garantir a hegemonia territorial, assegurando, dessa forma, o controle da exploração sexual e do tráfico de drogas na região”, afirmou Reschke.