Nota foi publicada nesta segunda-feira
A Sociedade Médica de Farroupilha (Farmed) se manifestou por meio de uma nota a respeito da entrevista concedida pelos médicos Thiago Brunet e Milton Brechane e pelo vereador Sandro Fantinel à Spaço FM, no programa Fim de Expediente, que ocorreu na última sexta-feira, 21. No documento, a sociedade encarou com estranheza e perplexidade as declarações dos entrevistados, visto que as considerações não tem como base estudos científicos e que lamentam profundamente que este tipo de informação inverídica, originada das redes sociais, seja divulgada através de profissionais de saúde.
Confira a nota abaixo
A Sociedade Médica de Farroupilha (FARMED) vem por meio desta manifestar- se a respeito da entrevista concedida à emissora de rádio da cidade em 21 de janeiro, pelo Sr. Thiago Brunet, Sr. Milton Brechane e Sr. Sandro Fantinel. Diante dos questionamentos da sociedade farroupilhense junto à FARMED, a mesma informa, em primeiro lugar, que os entrevistados não são representantes dos médicos de Farroupilha, sendo suas manifestações de caráter exclusivamente pessoal.
Em relação ao assunto em questão, epidemia COVID e vacinação, a FARMED declara que encarou com estranheza e perplexidade as declarações dos entrevistados, na medida em que essas não se sustentam em dados de estudos científicos, sociedades de classe ou mesmo instituições governamentais. A declaração do Sr. Milton Brechane de que “… nos Estados Unidos já morreram mais de 178.000 pessoas por causa da vacina” (min 33:25) não é verdadeira, não possui base científica e estatística nenhuma e cria desconfiança desnecessária sobre uma intervenção de saúde claramente eficaz em evitar hospitalizações e mortes. Declarações como essa prejudicam o combate à epidemia desde o início das campanhas de vacinação e lamentamos, profundamente, que esse tipo de informação inverídica, originada das redes sociais, reverbere através de profissionais de saúde.
A base de dados do Center for Disease Control and Prevention, órgão responsável pela vigilância epidemiológica de doenças infecto-contagiosas dos Estados Unidos da América, não possui registro das mortes citadas na entrevista, sendo temerária e grave a afirmação e sua vinculação com vacinas. Ao contrário do afirmado, os dados americanos mostram que a vacina, embora não evite reinfecção em todos os casos, diminui internações hospitalares e mortes em todas as faixas etárias, não aumentando a incidência de efeitos colaterais graves. Utilizando os últimos dados disponíveis, em dezembro de 2021, a taxa de hospitalizações era 16 vezes maior em não vacinados e 9 vezes maior em adolescentes de 12 a 18 anos não vacinados (1,2). Em relação à mortalidade, os não vacinados, nos EUA, em novembro de 2021, tinham 16 vezes mais chance de morrer do que os vacinados, sendo que, em maiores de 65 anos, a chance de morrer foi 68 vezes maior nos não vacinados do que nos vacinados (3).
Qualquer cidadão pode acessar os dados pelos links informados no final do texto, e acompanhar a atualização dos dados oficiais. Outros países, como o Canadá (4), também apresentam dados de acordo com perfil vacinal, podendo ser consultados, confirmando as vantagens da vacinação completa.
Sugerimos, ainda, a consulta de informações junto à Sociedade Brasileira de Infectologia (https://infectologia.org.br/), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (https://sbpt.org.br/portal/), Sociedade Brasileira de Pediatria (https://www.sbp.com.br/) e Sociedade Brasileira de Imunizações (https://sbim.org.br/), órgãos de classe de profissionais que tratam, diariamente, pacientes graves com COVID.
Infelizmente, o Brasil não possui dados atualizados, como em outros países, comparando taxas de internação e mortalidade de acordo com o perfil vacinal, o que facilita a disseminação de informações falsas e boatos, muitos oriundos das redes sociais. Em relação ao uso de máscaras, citado como dispensável e tendo sido, inclusive, estimulada a interrupção do seu uso pelo entrevistado Thiago Brunet, a FARMED informa que a literatura é clara em demonstrar que, embora as máscaras não eliminem por completo, diminuem claramente as chances de contaminação, principalmente em ambientes fechados e com o uso de máscaras tipo PFF-2 (N95). O uso de máscaras faciais é, inclusive, recomendado pelo Ministério da Saúde do Brasil (https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/como-se-proteger).
Além disso, outras várias afirmações infundadas e inverídicas foram disseminadas durante a referida entrevista, não havendo nenhuma fonte técnica referenciada que sustente tais afirmações, como a suspeição sobre a segurança das vacinas disponíveis, e a possibilidade de alteração do DNA, conforme citado pelo entrevistado (5,6,7). Apesar da agilidade no desenvolvimento, todas as vacinas licenciadas passaram obrigatoriamente por rígidos testes, desde a fase laboratorial até os estudos de fases 1, 2 e 3, que confirmam a segurança e eficácia em humanos. Os dados foram avaliados por especialistas independentes e entidades regulatórias e continuarão a ser monitorados na medida em que as vacinas forem aplicadas (https://sbim.org.br/covid-19).
Por fim, a FARMED segue defendendo que o público Farroupilhense siga as orientações das autoridades sanitárias, utilizando máscara, higienizando as mãos constantemente e, principalmente, realizando todas as doses vacinais, incluindo reforços, em todas as faixas etárias recomendadas pelos órgãos competentes, pois trata-se da única intervenção comprovadamente eficaz em diminuir internações e mortes causadas pelo coronavírus.
fonte 1: https://covid.cdc.gov/covid-data-tracker/#covidnet-hospitalizations-vaccination
fonte 2: https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/71/wr/mm7102e1.htm?s_cid=mm7102e1_w
fonte 3: https://covid.cdc.gov/covid-data-tracker/#rates-by-vaccine-status
fonte 4: https://health-infobase.canada.ca/covid-19/epidemiological-summary-covid-19-cases.html
fonte 5: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/facts.html
fonte 6: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/children-facts.html
Dr Felipe Hertz, Dr Eduardo Segatto, Dr Rodrigo Wey, Dr Ronaldo Barbieri e Dr Marcos Dal Ponte.
Farroupilha, 24 de janeiro de 2022