Valor do tributo ainda não foi definido
A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira, 9, a recriação do seguro para vítimas de acidente de trânsito, conhecido como Dpvat. Foi incluído no projeto um artigo estranho ao tema, chamado de “jabuti” no jargão legislativo. Esse trecho permite a antecipação da análise de receitas do governo federal do segundo para o primeiro bimestre deste ano. Na parte relacionada ao Dpvat, um dos pontos é que o seguro passará a se chamar Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidente de Trânsito (Spvat).
O Spvat funcionará como um seguro obrigatório para indenizações de danos causados por veículos ou por suas cargas. Deve ser pago por todos os donos de veículos. A cobrança do Dpvat foi extinta durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. A última vez que os donos de veículos pagaram o Dpvat foi em 2020. Desde 2021, a gestão do saldo passou da seguradora Líder para a Caixa Econômica Federal (CEF).
No início deste ano, entretanto, o governo anunciou que os recursos estavam acabando. Com isso, enviou um Projeto de Lei complementar ao Congresso para recriar o seguro. Entre as justificativas, o executivo afirmou que “decorridos praticamente três anos de funcionamento do seguro obrigatório em regime emergencial e transitório, faz-se necessário estabelecer novas bases legais para assegurar de forma perene, sustentável e adequada para as vítimas de trânsito”.
Valores e regras
O principal ponto de interesse dos motoristas ainda não foi definido: o valor a ser cobrado pelo seguro será estabelecido após a aprovação do projeto pelo Congresso. O texto ainda será analisado pelo Senado. A cobertura do novo seguro vai gerar indenização por morte, invalidez permanente, total ou parcial, e reembolso de despesas com assistências médicas, serviços funerários e reabilitação profissional das vítimas que possa ter desenvolvido invalidez parcial.
Os valores das indenizações serão estabelecidos pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (Cnsp). O fundo seguirá sendo gerido pela Caixa. O seguro será pago para todos que apresentarem prova do acidente e dos danos que ele causou, não importando se foi causado com ou sem intenção. O projeto também traz uma mudança ao passar a destinar entre 35% e 40% do valor arrecadado pelo fundo aos municípios e estados onde houver serviço municipal ou metropolitano de transporte público coletivo.
Avaliação de ampliação de receitas
Com o jabuti aprovado junto com a texto do Dpvat, o governo conseguirá antecipar a execução de gastos extras ao orçamento. Pelas regras do arcabouço fiscal, aprovado no ano passado, o governo só poderá fazer essas despesas extras caso seja verificado um aumento de receitas – em relação ao inicialmente previsto nas contas do ano – no relatório de avaliação do orçamento relativo ao segundo bimestre. Esse relatório será divulgado em 22 de maio. Mas, agora, a Câmara aprovou que o governo pode gastar com crédito suplementar com base no aumento de receitas verificada no relatório do primeiro bimestre, que já foi divulgado. Com isso, o executivo fica apto a aumentar as despesas em R$ 15 bilhões.
A mudança no arcabouço foi mal avaliada pela oposição. “Pela legislação, não se pode incluir uma matéria estranha [ao projeto], ainda mais dessa forma. Se é preciso uma lei complementar para alterar o arcabouço, faça uma lei complementar. Mas no meio de uma discussão do Dpvat surgir um tema totalmente estranho, não faz sentido”, salientou o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS).