Religioso pontua que cuidados com os entes queridos têm sido terceirizados
Em entrevista à Rádio Spaço FM, o Frei Jaime Bettega fez um alerta sobre a perda dos laços familiares e o impacto desta realidade nos momentos mais delicados da vida, como a despedida de um ente querido. “Durante a vida, precisamos ter ao menos seis pessoas que fiquem conosco até o fim. O caixão tem seis alças. Tem vezes que até o padre precisa ajudar a carregar”, afirmou, lamentando o cenário de solidão em muitos sepultamentos. Para o religioso, a ausência em momentos como a missa de sétimo dia revela muito mais do que a falta de tempo. Ela escancara o distanciamento emocional construído ao longo dos anos. “Pouca união familiar. Não ir à missa de sétimo dia é uma consequência daquilo que faltou durante a vida”, observou. Segundo ele, a despedida solitária é o reflexo de relações frágeis e negligenciadas.
O religioso também criticou a crescente dependência da tecnologia no cotidiano das famílias. Para Bettega, os celulares têm ocupado o espaço do olhar, da conversa e do tempo compartilhado. “As telas tiram o foco do convívio entre pais e filhos. Precisamos diminuir o tecnológico para convivermos mais e termos despedidas autênticas”, destacou. Frei Jaime alertou ainda para a forma como os cuidados com os idosos e com as crianças vêm sendo delegados. “Em determinado momento, os filhos precisam se tornar pais dos seus pais. Mas não é isso que vemos. Temos terceirizado os cuidados dos pais e das crianças, não temos mais laços de pertencimento profundo”, pontuou.
Ao comentar as transformações no ambiente escolar, ele também elogiou a restrição do uso de celulares em sala de aula. “A escola em 2025 deu um grito de transformação social no momento em que retirou o celular das salas”, afirmou. Para Bettega, essa atitude aponta para uma possível reconexão entre as pessoas, a partir do resgate da atenção e da presença. “Mais do que tecnologia ou conforto, o que importa mesmo é a rede de afetos que construímos ao longo da vida. Essa rede precisa estar presente até o fim — nem que seja para ajudar a carregar o caixão”, concluiu.