Ele estava internado em São Paulo
Morreu, por volta das 12h desta sexta-feira, 21, o empresário Alcides Feltrin. Ele estava internado em um hospital de São Paulo. A cerimônia de despedida será em Farroupilha e ocorre na Capela A do Memorial São José. O sepultamento será neste domingo, 23, às 11h, no Cemitério Municipal Nova Vicenza.
Memórias Em Viva Voz
O empresário Alcides Feltrin, conhecido carinhosamente como Sementinha, participou de uma entrevista que faz parte do livro Memórias Em Viva Voz, idealizado pelo fundador da Rádio Spaço FM, Sezínio Luiz Portolan. A entrevista foi gravada no dia 4 de dezembro de 2013 e publicada em março de 2024 junto com outras 31 manifestações de empresários e lideranças de Farroupilha.
No capítulo 3, Feltrin conta com sua própria voz, que nasceu em Farroupilha, filho de Rodolfo Antônio Feltrin e Fiorina Catarina Tonin Feltrin. Ele explica que seu ancestral que veio da Itália foi Caetano Feltrin. Confira um trecho da entrevista que faz parte do livro:
Dele veio o filho Luís Feltrin, deste surgiu Abramo Feltrin e, logo após, Itacir Feltrin. Também, no segundo casamento, Caetano teve Antônio Feltrin, Jacinto Feltrin, Rodolfo Feltrin, meu pai, e depois, quem vos fala, Alcides Feltrin.
Esse meu bisavô veio de Grumolo delle Abbadesse, na Itália, região do Vêneto. Pela história eles vieram se estabelecer, pela história que eu conheço, aqui em Nova Vicenza. E daí eu vou contar um pouco da minha história. Os meus avós por parte da minha mãe (Fiorina Catarina Tonin Feltrin) foram Marcos Tonin e Rosina Tonin. Tenho meus irmãos do primeiro casamento do meu pai, Nestor Feltrin, Rui Feltrin e Dione Feltrin, já falecido. Faleceu ainda neném, com nove meses. Do segundo casamento do meu pai tem André Feltrin. E meu pai adotou uma menina, Dione Feltrin, que reside em Passo Fundo.
Negócios
No começo dos anos 52, por aí, 53, meu pai fundou o Galeto Feltrin, onde eu comecei minha vida com umas caixas de engraxate ali na frente e era garçom. Levantava 5h30 da manhã para abrir o restaurante, depois ia ao Colégio São Tiago e voltava de meio-dia e trabalhava de garçom. Bom, passou o tempo e quando eu tinha 12 anos não tinha condições e nem mais vontade para estudar e necessitava trabalhar.
Eu fui trabalhar na antiga Associação Comercial do falecido Ézio Bartelle e eu fazia aqueles requerimentos para emplacar automóveis. E os mais antigos conheceram o sargento Vital, que recebia esses requerimentos. Daí o que ocorreu, eu pedi emprego para o Delmar Fuhr, que até hoje ele existe. Aí fui trabalhar no escritório de contabilidade do Delmar Fuhr. Não, antes disso, estou meio confuso, fui trabalhar no escritório do Élio Valentini, que era o Élio Valentini e o Getúlio Silveira de Souza. Daí eu saí e fui trabalhar com o Delmar Fuhr. Era a malharia ali. Após isto o Delmar Fuhr me conseguiu um emprego no Banco Agrícola Mercantil, onde o gerente era o Amantino Bonetto e o subgerente era o Ansélio Sachet. E eu era o estafeta, entregava documentos na cidade.
Em junho de 1966 estava entregando documentos para as empresas e estava sentado em um saco de adubo na Comercial Agrícola Farroupilha, onde era sócio Carlos Silvestrin e hoje é o Fanton, onde é o edifício do Frizzo, e entrou um vendedor de sementes lá e eu disse:
– Você não me arruma uma vaga para vender sementes?
Eu tinha 21 anos.
– O que você faz?
– Trabalho no banco.
– Arrumo.
Aí eu dei o telefone pra ele do banco. Quando ele telefonou ele disse:
– Você vem aqui em Porto Alegre, na Rua Conde de Porto Alegre…
Me telefonou, eu pedi licença para o Amantino Bonetto, ele me deixou sair, fui a Porto Alegre e os caras me exigiram uma Kombi, tinha que registrar uma firma e eu “pelado”, sem saber onde é que eu ia. Mas que Kombi, que porra nenhuma. Eu muito peitudo:
– Está feito o negócio.
Eu não sabia como é que eu ia iniciar, não sabia nada. Voltei, meu pai conseguiu, que era representante da Feltrin, Tecidos Feltrin, lá em São Paulo, ele ia pra lá e conseguiu trazer uma camionetinha DKW velha, de 59. Aí ele chegou aqui com aquela camionetinha toda meio “esgualepada” e disse assim:
– Tá aqui, essa serve?
Eu digo:
– Pai essa não serve, tem que ser uma Kombi.
O engenheiro Juvelino Pasqual tinha uma Kombi, mas toda velha, toda quebrada.
– Juvelino quer fazer negócio?
Foi meu professor o Juvelino, me deu um duro danado que até hoje eu me encontro com ele e falo:
– Até hoje não aprendi o Teorema de Pitágoras.
Trocamos. Fui atravessar os trilhos do trem com a Kombi, quebrou os quatro amortecedores. Porra e dinheiro para botar aquilo? Soldei os amortecedores. Fui a Porto Alegre carregar, não deu certo, que a Kombi não ia. Aí eu troquei aquela Kombi por outra velha. Bom, aí deu. Aí consegui trabalhar com os talões da Isma. E foi indo, foi indo, foi indo. Mas, o que que ocorreu. A mulher ficou grávida. Casei em 66, mas imagina, eu já namorava, mas tinha vontade de casar. Besteira casar jovem, tinha que ao menos fazer um pé-de-meia, mas naquele tempo. Então, casei. Em seguida, a mulher ficou grávida. Pagando aluguel, ter que viajar, mas nos viramos. Aí o que aconteceu, estava me virando. Passou dois anos ela ficou grávida de novo. Naquele tempo era difícil esse negócio de pílula, esse negócio aí. Ficou grávida de gêmeos, então. Em 1972 deixei de viajar, tinha família, né. Aí eu já tinha um pé-de-meia por que eu trabalhava muito, fazia o oeste catarinense, sudoeste do Paraná, fazia aqui grande coisa no Rio Grande do Sul. Naquele tempo o telefone era muito difícil, então se escrevia carta. Não tinha asfalto, era puro barro, tinha que acorrentar as quatro rodas da Kombi, era muito difícil. Resolvi então parar. Comprei a metade da loja, era uma coisa assim tão… acontece coisas assim na vida que a gente… Comprei a metade da loja, da Comercial Agrícola Farroupilha, onde eu consegui representar para vender semente, que era do Fanton, comprei a metade, 50%. E aí foi, trabalhei muito, muito, muito. E aí tive um problema que as três filhas ficaram doentes e mais eu com hepatite, três anos. Trabalhando muito, mas em agosto de 1978 comecei a pensar e botar sementes junto, eu vendia máquinas agrícolas, produto veterinário, adubo, inseticida, etc, eu e o Fanton. Ele tinha a filha dele, que era a Titi. Trabalhávamos muito. Fim de 78 deu um problema de sociedade, então nos dividimos. Já tinha iniciado o trabalho com as sementes. Em janeiro de 79 eu fiquei com as sementes, foi separada a sociedade, eu fiquei com uma parte de sementes e eles ficaram com a parte de máquinas e produtos agrícolas.
Eu com muita dificuldade só fiquei com o ramo de sementes. Isso faz 34 anos. Hoje diria o seguinte, foi uma luta muito grande. Então hoje me sinto, como eu vou dizer, me orgulho disso tudo. Tive muita ajuda da família até que a minha ex-mulher.
Então, eu diria o seguinte, hoje a Feltrin tem a matriz em Farroupilha, nós temos 240 funcionários, nós temos a filial de Pinheiro Machado e lá tem o beneficiamento de sementes, têm 55 ou 57 funcionários, nós temos uma filial em Minas Gerais, produção de sementes, onde produzimos bastante sementes lá de diversas variedades, nós temos hoje uma estação de pesquisas em São Paulo, onde tem uma estação experimental de pesquisa, onde nós temos pesquisadores e temos convênios com três universidades. E temos uma filial na Argentina, em Mendoza, que na Argentina hoje nós produzimos mil toneladas de sementes.
Venda
Em 2023 a companhia Sementes Feltrin foi adquirida pela Syngenta Vegetable Seeds, que informou a conclusão do negócio e projeta expansão de portfólio atendendo diferentes perfis de agricultores, dentre eles pequenos produtores e jardinagem, em mais de 40 países.