Ari Glock Junior irá cumprir 42 anos e 10 meses de prisão, em regime fechado
O réu Ari Glock Junior foi condenado a 42 anos e 10 meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de tortura, tentativa de homicídio, sequestro, roubo e estupro. O julgamento ocorreu na quarta-feira, 25, no Fórum de Farroupilha. A pena foi aplicada pelo juiz Enzo Carlo Di Gesu, com atuação do promotor Ronaldo Lara Resende na acusação e do advogado Jader Marques na defesa. Junior, que já estava detido, retornou ao Presídio de Bento Gonçalves, onde seguirá preso.
Em entrevista à Spaço FM nesta quinta-feira, 26, o promotor considerou a sentença tecnicamente impecável e elogiou a fundamentação do juiz. “A sentença foi irretocável. O juiz trabalhou com os parâmetros que a lei estabelece e aplicou a pena de forma absolutamente correta. Mas a pena mínima para crimes como tortura e homicídio qualificado é muito baixa. E isso precisa mudar”, afirmou.
Crimes considerados “surreais” até por profissionais experientes
O caso ocorreu em agosto de 2021, na localidade de Linha Boêmios, interior de Farroupilha. Ari, então proprietário de um haras, desconfiava que a vítima, na época, seu funcionário, havia furtado dinheiro do local. Com apoio de comparsas, sequestrou, agrediu e torturou a homem.
O promotor, com 25 anos de atuação no Tribunal do Júri, afirmou nunca ter visto algo tão brutal. “É como um roteiro de filme de terror. A vítima foi torturada com choques, cigarro, agulhas quentes, teve dentes arrancados, dedos esmagados com alicate, um dedo baleado e foi jogada de um penhasco. É inacreditável!”, frisou.
Segundo ele, o homem chegou a ser hospitalizado após a primeira sessão de tortura. Mesmo assim, foi novamente raptado e levado a um segundo local, onde sofreu ainda mais agressões. Foi forçado a se atirar de uma altura de 30 metros, fraturando vértebras da coluna e ficando permanentemente incapacitado para o trabalho.
Sequelas permanentes e sofrimento de uma família humilde
O promotor revelou que a vítima não teve mais condições de retornar ao trabalho. “Atualmente ele depende dos pais, agricultores humildes, que precisaram abandonar a lavoura para cuidar do filho. Ele faz tratamento psiquiátrico e psicológico até hoje. É um sofrimento que não tem como reparar”, pontuou.
Vítima prestou depoimento por videoconferência
O sobrevivente foi ouvido durante o julgamento, por videoconferência. Segundo o promotor, o relato foi fundamental para comprovar a materialidade dos crimes. “As lesões que ele apresenta são extensas. O corpo dele está marcado por agressões por toda parte. As fotos anexadas ao processo mostram um nível de crueldade absurdo”, definiu.
Pena foi bem aplicada, mas legislação é branda
Apesar da condenação, Resende foi enfático ao criticar a legislação penal vigente. “A pena mínima para tortura é de dois a oito anos. Para homicídio qualificado, 12. Isso é inaceitável. Feminicídio, por exemplo, tem pena mínima de 20 anos. Por que outros homicídios qualificados são tratados de forma diferente?”, questionou.
Segundo ele, aumentar penas não é “discurso vazio”, mas uma medida concreta de contenção. “Pena mais alta significa mais tempo segregado, mais tempo pagando pelo que fez. Quem fala que aumentar pena não resolve está se apiedando de criminoso. A sociedade precisa dar respostas duras em casos assim”, definiu.
Outros envolvidos serão julgados
Ari Glock Junior foi julgado separadamente, pois os demais réus ainda têm recursos pendentes. Segundo o promotor, outros três envolvidos serão levados a júri, cada um com diferentes níveis de participação. “O réu condenado ontem foi o único que participou de todos os atos e coordenou os crimes. Os demais responderão conforme sua participação”, ressaltou.